O cenário global hoje se mostra muito desafiador. Os resquícios de uma pandemia com diversas decisões Dovish (política de expansão monetária e acesso ao crédito, juros baixos), políticas monetárias expansionistas em anos anteriores mostram seus resultados desiquilibrados nos dias hoje. Um desentendimento geopolítico entre Rússia e Ucrânia avisos prévios colaborou ou até antecipou o momento atual, trazendo à tona aos investidores e ao mercado a onda ESG, que desincentivou os investimentos na maior fonte de energia global, ocasionando um desequilíbrio entre oferta e demanda, distorcendo o preço do petróleo e gerando uma crise energética mundial.
Em 2020, com a intenção de amezinhar os efeitos da pandemia, os governos realizaram uma injeção excessiva de liquidez, de auxílios emergenciais até comprando títulos de empresas privadas, que acabou por experenciar uma fase de inflação global em diversas classes de ativos e inflando a base monetária M2. Dados disponibilizados pelo próprio FED mostram a maior quantidade de dólares em circulação na história, hoje com mais de US$ 2,278 trilhões (1). Com isso as políticas de contenção da crise sanitária junto a política expansionistas desovaram uma demanda, elevando de maneira significativa os preços dos bens e os principais índices de ações globais, que em 2021 tiveram suas máximas, S&P 500, Nasdaq e Ibovespa.
EUROPA
A situação na Europa se encontra extremamente fragilizada devido as decisões dovish e políticas para conter os impactos das restrições do COVID. Medidas fizeram com que os países tivessem um Dívida/PIB historicamente acima, como França (95,90%), Itália (150,80%) e Reino Unido (95,90%). Em 2020 a Zona do Euro chegou a ficar com a maior dívida Pública % PIB desde 1995, chegando a 97,2%, diminuindo para 95,6% em 2021.
Para contribuir com o caos já instaurado na política monetária, em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia decide invadir a Ucrânia, iniciando um conflito geopolítico com consequências globais. Devido a isso diversos países sendo alguns deles da União Europeia, decidem emitir sanções contra Vladimir Putin como mensagem de repúdio, principalmente parando de comprar o petróleo que o país exportava e junto a isso diversas empresas multinacionais interromperam suas operações no país. Como forma de retaliação a Rússia, que é responsavel por cerca de 40% de todo o gás importado da Europa, vem realizando cortes no fornecimento, que nos primeiros sete meses e meio de 2022, a Gazprom reduziu as exportações de gás para a Europa em 36,2%, chegando em 78,5 milhões de metros cúbicos. Segue a imagem abaixo.
Tantas as medidas de repúdio, quanto as de retaliação Russa, causaram um choque na oferta de matriz energética no mundo inteiro.
A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, o equivalente a 12% do petróleo produzido globalmente (3), atrás apenas dos EUA e da Arábia Saudita. As medidas causaram um choque na oferta de petróleo global, ocasionando uma elevação nos preços e afetando toda cadeia produtiva. Mas os 12% do que é produzido pela Rússia afetou de maneira exponencial devido ao desinvestimento no setor petrolífero (4) ao longo dos últimos anos causado pela onda de boas condutas ambientas ESG. Porém a demando por petróleo subiu (5), ocasionando um estreitamento sensível com a oferta, que acabou por ceder com os sansões globais realizado com a Rússia.
Como substituto enérgico ao Gás, a Europa começou a fazer mais uso do petróleo. Segunda a Agência Internacional de Energia (AIE) em relatório divulgado em 10/08/2022, o aumento do uso de petróleo para a geração de energia na Europa e no Oriente Médio vai aumentar a demanda pelo combustível até o fim de 2022
A Europa Ocidental com Grã-Bretanha, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália são um polo industrial global e com suas cadeias produtivas verticalizada. Com o aumento da energia o preço teve de ser repassado e consequentemente passando para toda a cadeia e afetando diretamente a inflação em nos produtos de ponta a ponta e repassado ao consumidor.
O excesso de liquidez global juntamente com a inflação na matriz energética deixou a Europa em um cenário extremamente sensível. Para conter a liquidez global é necessário aumentar juros, mas como fazer isso com o país com sua Dívida/PIB em níveis recordes? A maneira de fugir do alto preço do gás foi em voltar ao petróleo, que tambem está com seu preço alterado. Os próximos anos na Europa ira ser muito desafiador.
EUA
Já no EUA, uma teoria desenvolvida por Stephen Jen, um dos fundadores do hedge fund SLJ Macro Partners LLP se mostra novamente presente o “Dólar Smile”.
Quando as coisas estão indo bem nos Estados Unidos, sua economia lidera o mundo desenvolvido. Em momentos quando os EUA estão com taxa de inflação alta, níveis de desemprego baixo (como Atualmente), o FED tende a aumentar a taxa de juros assim atraindo fluxo de capital investidores do mundo inteiro para o país, como consequência, o dólar ganha força. Com a economia americana estiver dando sinais de recessão, os investidores tendem a sair suas posições em investimentos de risco, e levar portfólio de investimento em moeda forte e ativos dolarizados, tal movimento global que faz com que o dólar suba. Quando a economia dos EUA estiver com rumos incertos, os investidores tendem a vender dólar e investir em moedas que apontam rendimentos maiores ou em economias emergentes com taxas de juros alta, como o Brasil.
O DXY (Cesta de moedas contra o dólar) mostra exatamente esse período em diferentes cenários ao longo dos anos (7)
No EUA em 2022 o cenário Smile se repete, com Discursos de Jerome Powell, Presidente do Fed dos EUA de que a inflação seria temporária, em julho de 2022 a Inflação acelerou para 9,1% em 12 meses (Comparação com 2021), maior valor em 41 anos e em setembro de 2022 se encontra em 8,3%. O EUA se mostrou inexperiente em relação os níveis de inflação, com as decisões de Powel isso ficou mais claro, com os níveis de desemprego descendo, indicadores de aquecimento das economias e mantendo em patamares acima da média, deixando o FED atras da curva de juros e o mercado precificando cada vez mais juros futuros. Inclinado a curva e deixando a curva de US2Y maior que a de US10Y, inversão que precede um cenário de recessão.
Como já dito anteriormente o método utilizado por bancos centrais para controle de inflação é subindo os juros, mas diferentemente outros países no EUA existe uma cultura maior em relação aos investimentos, dados de 2020 apontam, 55% dos adultos dos Estados Unidos investiam no mercado de ações, já no Brasil, o número não costuma superar a casa dos 10%. A elevação de juros tende a fazer com que a bolsa caia, devido a atratividade maior em ativos de renda fixa e trazendo a valor presente os Valuation das empresas listas e consequentemente afetando diretamente a grande parte da população américa que costuma por sua vez depositar a sua previdência em bolsa. Em um ano de Eleições Americanas, o presidente Biden deve subir juros mais lentamente ficando ainda mais atras da curva, com intuito de manter a popularidade, ficando em uma linha muito tênue entre manter a resiliência e austeridade fiscal junta a popularidade. O que acaba dificultando a estabilização da economia americana com o controle da inflação, que tambem está afetada pela liquidez global e crise na matiz energética.
BRASIL
Diante de todos esses acontecimentos, como fica o Brasil? Parecemos estar passando um momento diferente do cenário global. No dia 17/03/2021 o Roberto Campos Neto (Presidente do Banco Central do Brasil) iniciou o ciclo de alta de juros que deve parar em 2022 (medida tambem tomada para interromper a crescente inflação) e se mantar nos patamares de 13,75% durante certo tempo, com perspectiva na curva de juros de ficar perto da casa dos 11% até final de 2023, de acordo com a curva de juros futuros que temos hoje.
Decisão que definitivamente reduziu danos, o tornando o Brasil diferentemente do cenário global, um país atrativo em relação a juros, criando uma oportunidade de arbitragem global Além de que segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Brasil cerca de 43% de tudo que foi exportado pelo Brasil é relacionado a commodities, sendo que as matérias primas tendem a se valorizar em períodos mais inflacionarias, onde o repasse é feito na base da cadeia produtiva, assim se tornando um ativo defensivo e desta maneira colocando o Brasil ainda mais atrativo na prateleira de investimentos no período atual.
A Atratividade Brasileira se mostra um número quando analisamos o fluxo estrangeiro e saldo de 2022 acumula R$ 72,1 bilhões.
Durante a Pandemia o Brasil tambem fez uso de políticas para manter a resiliência da economia , o auxílio brasil foi uma delas e assim deixando em 2020 o país com uma dívida/PIB de quase 90%, que hoje diferentemente dos outros países diminuiu-se encontrando com 80% hoje. Em comparativo com o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e pares Latino-americanos, o Brasil novamente se destaca como opção para investimento estrangeiro, a desavença geopolítica na Rússia está sem perspectiva de acabar e o país diversas sanções econômicas. Assim comprimindo crescimento e relacionamento com outros países. A Índia e A China são importadores de comodities, por isso com dólar e commodities em alta sua balança comercial tente a ser deficitária. Na China as políticas de Covid 0 e a crise imobiliária são tambem fatores que deixam o país menos atrativo.
Além da atratividade dado o cenário macroeconômico, um spread de juros global atraente, um momento excelente para renda fixa, o momento micro em bolsa de valores tambem se mostra atraente. O Preço/Lucro, indicador onde é comparado o valor de mercado da companhia com o lucro líquido daquela empresa( Excluindo Petro e Vale), do Ibovespa está em seus menores patamares desde a crise de 2008, indicando retorno mais rápidos sobre o investimento, abrindo assim uma janela de oportunidade única. Outro indicador que justifica o risco é o EBITDA/Dívida Líquida das empresas listada, a alavancagem das empresas sob cobertura do BTG Pactual chegou ao menor nível em 2021, 1,2 vez o EBITDA sobre a dívida líquida, ante 1,9 vez em 2020, após um pico de 2,9 vezes em 2015. O banco estima que neste ano o indicador deve ficar estável e cair para 1,4 vez em 2023.
Grandes Institucionais estão vendo toda a assimetria no Brasil, fundos de Private Equity estão acompanhando empresas de capital aberto com múltiplos atrativos, a inglesa Actis montou recentemente uma participação de 19% na empresa de energia renovável Omega. A General Atlantic, com sede Nova York, acumulou participação de 11% na Locaweb, uma provedora de serviços da web que caiu 81% em relação ao pico de 2021.
Os investimentos de private equity no Brasil aumentaram 617% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2021 para R$ 16,5 bilhões, segundo a associação brasileira de venture capital e private equity Abvcap. Duas transações da Brookfield responderam por quase 60% do total: uma compra de R$ 5,9 bilhões de ativos imobiliários da BR Properties e uma aquisição de ativos de R$ 3,57 bilhões da Localiza. Além do fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala, fez uma oferta pelo controle da BK Brasil Operação e Assessoria a Restaurantes, que opera a rede de fast-food Burger King no país.
Muito já aconteceu no Brasil e ainda vai acontecer após as eleições, muito valor ainda está por destravar no mercado de capitais com a escolha do presidente. Devido a diversos fatores já citados, o mercado financeiro pode seguir muito bem independente de quem seja o próximo presidente, teremos setores que podem ser mais explorados que outros, mas as oportunidades estão dispostas na mesa. Os próximos anos podem trazer rentabilidades acima da média com a escolha de boas empresas listadas em bolsa.
Referencias
https://fred.stlouisfed.org/series/MBCURRCIRW
https://pt.tradingeconomics.com
http://comexstat.mdic.gov.br
https://www.naturalgasintel.com/u-s-eps-reining-in-capex-while-international-operators-spending-more/
https://www.ibp.org.br/observatorio-do-setor/snapshots/maiores-produtores-mundiais-de-petroleo-em-2020/#:~:text=Atualmente%2C%20o%20Brasil%20%C3%A9%20o,metade%20da%20produ%C3%A7%C3%A3o%20mundial%20total.